Por Redação da Conservação Internacional - Brasil
Hainan, China – Os parentes vivos mais próximos da espécie humana na escala evolutiva – os chimpanzés, gorilas, lêmures e outros primatas – estão sob ameaça sem precedente devido à destruição de florestas tropicais e ao comércio ilegal de animais silvestres e carne de caça. Segundo um novo relatório apresentado pelo Grupo de Especialistas em Primatas da Comissão de Sobrevivência das Espécies (SSC) da União Mundial para a Natureza (IUCN) e pela Sociedade Internacional de Primatologia (IPS), em colaboração com a Conservação Internacional (CI), 29% das espécies de primatas está sob risco de extinção.
Primates—2006–2008 (Primatas em Perigo: Os 25 Primatas mais ameaçados do mundo – 2006-2008), o relatório compilado por 60 especialistas de 21 países alerta que se falharmos nas respostas às crescentes ameaças, atualmente exacerbadas pelas mudanças climáticas, veremos as primeiras extinções de primatas em mais de um século. O estudo indica que 114 das 394 espécies de primatas estão classificadas como ameaçadas de extinção na Lista Vermelha da IUCN.
Os caçadores abatem primatas para subsistência ou para a venda de carne; comerciantes capturam-os vivos para venda, madeireiros, fazendeiros e urbanizadores destróem seus hábitats. Acredita-se que uma espécie, o colobo-de-waldron, habitante da Costa do Marfim e de Gana, já esteja extinta. Calcula-se que o langur-dourado do Vietnam e o gibão-de-hainan, na China, têm populações muito reduzidas, na casa das dezenas. O lóris-esbelto vermelho, do Sri Lanka, foi avistado apenas quatro vezes desde 1937.
“Todos os sobreviventes destas 25 espécies cabem dentro de um estádio de futebol; isso mostra os quão poucos restam no planeta hoje”, afirma Russel A. Mittermeier, presidente da CI, que também é chefe do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN/SSC. “A situação é pior na Ásia, onde a destruição da floresta tropical, caça e comércio de macacos coloca muitas espécies sob grande risco. Até mesmo as espécies recém-descobertas estão gravemente ameaçadas pela perda de seu hábitat e poderão desaparecer logo”.
Como “espécies-bandeira” para conservação e nossos parentes vivos mais próximos, os primatas não-humanos são importantes para a saúde dos ecossistemas em seu entorno. Através da dispersão de sementes e outras interações com seus ambientes, os primatas ajudam a manter um vasto leque de vida vegetal e animal que compõem as florestas da Terra.
A lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo, compilada no 21º Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia realizado em Entebe, Uganda, segue a mesma metodologia desde sua primeira edição em 2000. Oito dos primatas desta lista, incluindo o orangotango de Sumatra, na Indonésia, e o gorila de Diehl, encontrado na República dos Camarões e na Nigéria, são “tetra-perdedores”, porque também já foram incluídos nas três listas anteriores. Seis outras espécies foram incluídas na lista pela primeira vez, incluindo um macaco tarsier indonésio recém-descoberto que ainda não foi formalmente registrado.
A intenção principal dessa lista é de chamar atencão para a situação crítica de alguns dos primatas mais ameaçados. Com isso, atrair investimentos e esforços para promover pesquisas e investigações para mitigar as ameaças por meio de medidas tais como a fiscalização, a criação de áreas protegidas e programas de criação em cativeiro. Existem muitas espécies precisando urgentemente de maiores atenções nesse sentido, e assim a lista precisa ser dinâmica e indicar comparativamente aquelas espécies com maior nível de ameaça.
Brasil – A lista anterior (2004-2006) era composta por três espécies do Brasil. Todas da Mata Atlântica: mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara), macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e muriqui do norte (Brachyteles hypoxanthus), também conhecido como mono-carvoeiro. Na relação atual, os primatas brasileiros ficaram de fora. Na avaliação dos pesquisadores, embora os animais brasileiros continuem ameaçados, os esforços conjuntos de instituições do governo, organizações não-governamentais e o acúmulo de anos de conhecimento sobre as espécies e o habitat onde vivem mitigaram parte dos problemas que comprometem a sobrevivência dos animais. Outro fator que tirou da lista atual os macacos brasileiros foi a piora da situação de outros primatas em outras partes do mundo. Embora os resultados sejam um pouco mais positivos, ainda é preciso mais investimentos no monitoramento das principais populações, na análise da diversidade genética intra e interpopulacional, e na criação e implementação de unidades de conservação, para garantir a proteção a longo prazo da população destas espécies.
Hotspots prioritários para sobrevivência dos primatas - Todos os 25 primatas da lista de 2006-2008 encontram-se nos hotspots de biodiversidade – as 34 regiões de alta prioridade identificadas pela Conservação Internacional que cobrem apenas 2,3% da superfície terrestre do planeta, mas abrigam mais de 50% de toda a diversidade vegetal e animal da Terra. Oito hotspots são considerados de altíssima prioridade para a sobrevivência dos primatas mais ameaçados de extinção: Indo-Burma, Madagascar e as ilhas do Oceânico Índico, Sunda (Indonésia, Malásia e Brunei), Florestas de Afromontana na África Oriental, as Florestas Costeiras da África Oriental, as Florestas da Guiné na África Ocidental, a Mata Atlântica brasileira e o Ghats Ocidental – Sri Lanka.
A lista atual, 2006-2008, chama a atenção à situação alarmante do crescimento das taxas de desmatamento e a destruição das florestas dos Andes no Peru, Colômbia e Equador. Madagascar e Vietnam têm quatro primatas na lista cada um, enquanto que a Indonésia tem três, seguida pelo Sri Lanka, Tanzânia, Costa do Marfim, Gana e Colômbia, com dois primatas cada. A China, República dos Camarões, Guiné Equatorial, Quênia, Nigéria, Mianmar, Bangladesh, Índia, Peru, Venezuela e Equador têm, cada um, um primata na lista. Dentre os 25 listados, alguns primatas são encontrados em mais de um país. Por região, a lista inclui 11 espécies da Ásia, sete da África, quatro de Madagascar e três da América do Sul, mostrando que os primatas não humanos estão ameaçados onde quer que se encontrem.
A perda dos hábitats provocada pelo corte das florestas tropicais para a agricultura, exploração madeireira e coleta de lenha para combustível, continua a ser o principal fator para a redução do número de primatas segundo o relatório. O desmatamento tropical também emite 20% do total dos gases do efeito estufa, que provocam mudança climática, o que representa mais do que a emissão de todos os automóveis, caminhões, trens e aviões do planeta reunidos. Além disso, a mudança climática está alterando os hábitats de muitas espécies, tornando aquelas que vivem em pequenos territórios ainda mais vulneráveis à extinção.
“Protegendo as florestas tropicais que ainda restam no mundo, salvaremos os primatas e outras espécies ameaçadas, ao mesmo tempo em que impediremos que mais dióxido de carbono entre na atmosfera e aqueça o clima”, observa Mittermeier.
A caça de subsistência e com finalidades comerciais representa uma grande ameaça aos primatas, especialmente na África e na Ásia. A captura de espécimes vivos para o comércio de animais de estimação também significa uma séria ameaça, especialmente para as espécies asiáticas.
A lista de 2006-2008 concentra-se na gravidade da ameaça global e não apenas nos números. Algumas das espécies na lista, como o orangotango de Sumatra, ainda são encontrados em poucos milhares, mas estão desaparecendo num ritmo mais rápido do que os outros primatas. Outros foram descobertos apenas recentemente, e suas reduzidas populações e territórios os tornam especialmente vulneráveis à destruição de seus hábitats e outras ameaças.
http://envolverde.ig.com.br/#
(Envolverde/Conservação Internacional)
domingo, 28 de outubro de 2007
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Primatas em Perigo |
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
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BLOG ACTION DAY |
Você pode ajudar!! SALVE NOSSO MUNDO!
ALF
GREENPEACE
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
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Tenha sonhos! |
Tenha sonhos!
Você precisa ter sonhos, para que possa se levantar, todas as vezes que cair.
Acreditar que, a toda hora, acontecerão coisas boas, e mudar o rumo da sua vida.
Você precisa ter sonhos grandes e pequenos. Os pequenos são as felicidades mais rápidas, os grandes são os que dão força para suportar o fracasso dos sonhos pequenos.
Você tem que regar os teus sonhos todos os dias, assim como se rega uma planta para que cresça...
Precisa dizer sempre a você mesmo: "Vou conseguir! - vou superar! - vou chegar no meu sonho!"
Fazendo isso, você estará cultivando sua luz, a luz das esperanças, que nunca deve se apagar, pois ela é a imagem que você passa pras outras pessoas.
É através dessa luz que todos vão lhe admirar, acreditar em você e te seguir.
Mire -se na lua, pois se você não puder atingi-la, com certeza irá conhecer grandes estrelas... Ou quem sabe, poder ser uma delas!
Vilma Galvão
terça-feira, 2 de outubro de 2007
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Plante arvores com um clique! |
O que é o clickarvore ?
O clickarvore é um programa de reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlântica pela Internet. Cada click corresponde ao plantio de uma árvore, custeado por empresas patrocinadoras, e agora também pela própria sociedade civil através de uma nova ferramenta de e-commerce..
De quem é a iniciativa ?
O clickarvore é uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Ambiental Vidágua e o Grupo Abril, com o apoio de empresas patrocinadoras.
Como funciona ?
A Fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Ambiental Vidágua e o Grupo Abril unem seus esforços neste Programa para captar recursos e convertê-los em árvores com a ajuda da Internet. Para cada click, uma árvore será plantada. Assim, pretendemos mudar o atual quadro de devastação da Mata Atlântica.
Quais os objetivos do clickarvore ?
- Apoiar iniciativas locais de recuperação de áreas, fornecendo mudas de árvores nativas e informações técnicas adequadas;
- Fomentar a produção de mudas e a coleta de sementes florestais das espécies nativas da Mata Atlântica;
- Recuperar áreas de preservação permanente, controlando os processos erosivos e de assoreamento dos corpos d’água;
- Mobilizar a sociedade civil para participar de projetos de reflorestamento;
- Apoiar a formação de corredores biológicos entre as diferentes ilhas de remanescentes florestais;
- Gerar empregos em viveiros florestais e propriedades rurais durante os plantios;
- Capacitar técnicos, agentes comunitários, professores e instituições sobre técnicas de reflorestamento, microbacias, produção de mudas e manejo adequado de áreas replantadas;
- Promover a educação ambiental;
Qual a importância deste programa no controle de erosões e assoreamento de rios?
Com o reflorestamento, reduzimos o sério problema da perda de terra por meio de erosões. Estima-se que 80% do Estado de São Paulo esteja sofrendo processos erosivos acima dos limites toleráveis, causando perdas de 194 milhões de toneladas de terra por ano, sendo que até 45 milhões de toneladas/ano chegam aos mananciais na forma de assoreamentos (BELLINAZZI JR R. Et alli.).
Geralmente toda esta terra caminha através de contínuos processos erosivos para dentro de recursos hídricos (reservatórios hidrelétricos, mananciais e demais corpos d’água), acelerando o assoreamento. Este problema pode ser minimizado com reflorestamentos em áreas de
preservação permanente, incentivados através deste programa.
Qual a importância deste programa no combate ao efeito estufa?
Um dos maiores problemas ambientais da atualidade é o aquecimento global, também conhecido como efeito estufa, provocado pelo lançamento de 7 bilhões de toneladas/ano de gás carbônico na atmosfera, resultado da queima de combustíveis e de outras atividades humanas.
O plantio de árvores é hoje uma das melhores soluções para amenizar o problema, uma vez que durante a fotossíntese as árvores transformam o gás carbônico do ar em alimento, seqüestrando-o da atmosfera.
Com a implantação da Convenção de Mudanças Climáticas e com o Protocolo de Kyoto, cresce a demanda pela
implantação de projetos capazes de promover o seqüestro do carbono atmosférico.
Qual a importância deste programa na formação de corredores ecológicos?
Com os desmatamentos, animais e plantas vivem isolados em pequenas manchas de florestas cercadas por cidades e plantações.
Os corredores ecológicos promovem a conexão entre os diferentes remanescentes florestais, a fim de proteger a biodiversidade, permitindo o cruzamento de indivíduos entre populações diferentes da mesma espécie, possibilitando ainda o próprio enriquecimento das áreas recuperadas.
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
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Aborto |
“...A biologia define na ciência onde começa a vida. A vida começa na concepção, ela é continua quer intra, ou extra uterina até a morte, isso é confirmado na embriologia, pela genética e pela medicina fetal, a teologia cristã não esta em nenhum momento contra a ciência com um argumento imbecil ou idiota... simplesmente porque é uma questão de religiosidade que esta no livro esta acabado, NÃO!!! Eu digo sempre que ninguém entende mais do homem do que Deus, então partindo desse eixo, como a vida começa na concepção como a biologia confirma, (isso é científico) significa que o aborto é matar uma vida...”
Palavras ditas pelo Pastor Silas Malafaia no Canal Livre (Band) sobre aborto, um assunto serio, que todos devem estar conscientes, vocês irão ver um lado da questão que é pouco defendido na mídia. (Saiba de tudo vendo o vídeo abaixo que esta dividido em duas partes, se não conferir os videos provavelmente não irá entender o contexto do assunto)
Parte 1
Parte 2
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
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Mário Prata |
“Muitas vezes, passamos um longo tempo de nossas vidas correndo desesperadamente atrás de algo que desejamos, seja um amor, um emprego, uma amizade, uma casa etc.
Muitas vezes, a vida usa símbolos, acontecimentos que são sinais para que possamos entender que, antes de merecemos aquilo que desejamos, precisamos aprender algo de importante, precisamos estar prontos e maduros para viver determinada situação.
Se isso está acontecendo na sua vida, para e reflita sobre a seguinte frase:
“Não corra atrás das borboletas. Cuide de seu jardim e elas virão até você!”
Devemos compreender que a vida segue seu fluxo e que esse fluxo é perfeito. Tudo acontece no seu devido tempo.
Nós, seres humanos, é que nos tornamos ansiosos e estamos constantemente querendo “empurrar o rio”. O rio vai sozinho, obedecendo o ritmo da natureza.
Se passarmos todo o tempo desejando as borboletas e reclamando porque elas não se aproximam da gente, mas vivem no jardim do nosso vizinho, elas realmente não virão.
Mas se nos dedicarmos a cuidar de nosso jardim, a transformar o nosso espaço (a nossa vida) num ambiente agradável, perfumado e bonito, será inevitável... As borboletas virão até nós!
Dê o que você tem de melhor e a vida lhe retribuirá...!”
sábado, 15 de setembro de 2007
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João Ubaldo Ribeiro |
A crônica que você vai ler a seguir mostra de maneira bem humorada os conflitos que surgem quando o conhecimento científico se vê frente a frente com os saberes populares.
Os comedores de baiacu
O baiacu, como haverão de saber os amáveis leitores, é o nome popular de alguns peixes aqui no Brasil (ou pelo menos em Itaparica; Itaparica é Brasil), geralmente da desagradável família dos tetradontídeos. Para ser mais claro, trata-se de um vulgar actinopterígio, teleósteo. da ordem dos plectógnatos, da já mencionada família tetradontídea e, julgo eu, na maior parte dos casos, é um exemplar da espécie
Mas, enfim, eis que o baiacu abunda nestas plagas. Outro dia mesmo, pescando mais Luiz Cuiúba, ferrei uns dez, tudo maiorzinho de um palmo, pescaria até boa, se fosse peixe que prestasse. Até os quatro dentinhos dele chateiam o vivente, porque só são quatro, como o nome da família indica, mais são navalhas, estropiam anzóis, às vezes cortam até os arames das paradas. E o miserável, ainda por cima é guloso, engole o anzol de vez e é um sacrifício para tirar tudo de lá de dentro. Para não falar que é metido a batalhador e então o sujeito está ali pedindo a Deus em vermelhinho, um dentão, uma xumberga, um beiju-pirá, uma coisa assim decente, e ai a vara verga, a linha estica e sai em disparada para o lado, peixe grande comeu! Comeu nada. O camarada sua, luta pra cá, luta pra lá, mete a mão na linha, faz diabo, e quem chega, sacudindo vergonhosamente a ponta da linha? Um baiacu. Não pode haver maior tristeza para quem já tinha garantido ao companheiro de pescaria que “esse bicho aqui na linha é uma sororoca e das grandes”.
Cuiúba não deixava que eu jogasse fora, os baiacus e, lá pelas tantas, havia uma pincha deles, ainda espadanando a pocinha do fundo da canoa.
- Ha-ha! – exclamou Cuiúba, brandindo facinorosamente a faca enferrujada, mas amoladissima, que ele sempre leva.
- Vou fazer filé de baiacu, que amanhã eu como uma moqueca!
E passou, com habilidade um tanto assustadora, a eviscerar, esfolar e desossar os baiacus, jogando “filé” atrás de “filé” para dentro do coifo. Alguns dos filés, inclusive, continuavam se batendo, não fibrilando como carne de cágado, mas se agitando esmo, quase como peixes vivos. Não creio que isso pode se tornar uma atração turística, nunca vi coisa mais esquisita. E meu dever, embora Cuiúba sabia mais de peixes do que quarenta delegados regionais do Sudepe, era fazer uma advertência. Nós, biólogos, temos obrigações sociais.
- Cuiúba, você esta maluco? Você vai comer isso? Isso é um Lagocephalus laevigatus! O famoso peixe venenoso, isso mata em poucas horas!
- Já tinha ouvido gente chamar isso de peixe-sapo, mais esse nome que você falo nunca ouvi falar – Disse Cuiúba, jogando outro filé na cesta.
- Um anfíbio anuro? – Disse eu. – não seja ridículo, isso é um Lagocephalus.
- Isto – disse Cuiúba, metendo a faca na barriga de mais um peixe – é um baiacu. É o melhor peixe do mar e eu vou comer tudo de moqueca.
- Mas você não sabe que o baiacu é venenoso?
- É para quem não sabe tratar. O veneno esta aqui – mostrou ele, cutucando uma bolinha entre as vísceras. – Tirando isso, fica logo o melhor peixe do mar.
- Mais você não sabe que de vez em quando morre um depois de comer baiacu, ás vezes famílias inteiras, e de gente acostumada a come baiacu?
- É, eu sei. Agora mesmo, semana passada, morreram quatro de vez, no Alto de Santo Antonio, só sobrou um quinto, que ainda esta passando meu no hospital. Eles comiam sempre baiacu, a velha fazia um escaldado com quiabo ótimo, eu mesmo comi lá várias vezes.
- E então? E ela não sabia dessa bolinha ai, não estava acostumada a tratar baiacu?
- Estava, estava. Mas ninguém está livre de uma distração, é ou não é? Uma distração assim... – e, ploft, outro filé no cesto.
- Cuiúba, deixe de ser doido, você pode morrer se comer esse negocio.
- Morro nada.
De volta ao mercado, procurei apoio na autoridade de Sete Ratos, peixeiro antigo, diz o povo que hoje rico, da venda de peixe. Com certeza ele dissuadiria Cuiúba daquela idéia tresvariada de comer baiacu. Encontro Sete Ratos em pé diante de uma banca, com as mãos metidas numa gamela, tratando peixe. Já era quase dez horas, passava da hora do almoço e era natural que ele estivesse ali preparando sua comida. Olhei para dentro da gamela, vi uns vintes baiacus miúdos.
- Sete Ratos, você vai comer baiacu?
- É o melhor peixe do mar!
- Mais essa desgraça é venenosa, você não sabe que é venenosa?
- Ah, é. Semana passada mesmo, morreram acho que quatro ou cinco, lá no auto. Família acostumadinha a comer baiacu, neste dia comera... É o desacerto.
- Eu sei, Cuiúba me contou. E eu que vinha aqui justamente para lhe pedir que tirasse da cabeça dele a idéia de comer uns filés de baiacu que a gente pescou.
-Ele esfolou o peixe? Tiro a pele? Tiro justamente o que dá gosto na moqueca? Tiro de frouxidão, foi isso, tirou de frouxidão! Hem, Cuiúba você tirou a pele porque acha que o veneno está na pele? Hem? Deixe de ser frouxo, rapaz, isso tudo é conversa, o veneno nunca esteve na pele, se fosse assim eu já era defunto.
- Eu sei – falou Cuiúba. – Eu tirei porque gosto de filé de peixe, mas eu sei que o veneno está naquela bolinha da barriga.
- Que bolinha da barriga, rapaz, tem nada de bolinha de barriga, isso tudo é conversa, tem nada de bolinha na barriga. Isso ai a pessoa tira porque ninguém vai comer tripa de peixe, só francês ou senão americano. O negócio é na hora do cozimento, ai tem de cozinhar direito!
- E você vai mesmo comer essa baiacuzada, Sete Ratos?
- Ora, é o melhor peixe do mar!
Saí por ali, conversei com Turrico, que, além de garçom, é bom pescador. Ele também é chegado a uma moquequinha de baiacu. Mas não é venenoso, Turrico? É, semana passada mesmo, no Alto... Mas só é venenoso nos meses que não tem r, no mês que tem r pode comer sossegado.
Mas Sete Ratos me disse que era no cozimento. E Cuiúba...
- Isso é tudo conversa, tudo conversa. Eu não deixei de comer baiacu nem depois que morreu uma parenta minha – uma não, duas, que eram velhas vitalinas e moravam juntas. Elas estavam acostumadas, faziam baiacu muito bem. Mas nesses dia...
- E então?
- E porque foi julho, Julho não tem r. Ou tem?
Está certo, pensei eu sem entender nada, enquanto me dirigia à casa de meu amigo Zé de Honorina, para pegar um feijãozinho atendendo a amável e generoso convite. Comentei com ele minha perplexidade.
- Que coincidência! – disse ele alegremente. – Comadre Dagmar está ai justamente preparando uma moqueca de baiacu.
- Ah, desculpe, Zé, mas eu não como baiacu.
- Besteira sua, é melhor peixe do mar. Agora não se pode negar que é venenoso. Semana passada mesmo, no Alto...
-Eu soube, eu soube. E você vai comer assim mesmo?
-Claro que vou, mas não se preocupe, que eu mandei preparar uma garoupinha para você, separada.
Entre limões, mão de coentro, pilhas de cebola, olho, malagueta e tomates, Dagmar dava os últimos retoques na moqueca de baiacu. Aproximei-me, estava tudo muito cheiroso. Observei como aquela sua moqueca da baiacu era famosa, como Zé tinha confiança em comer aquele peixe venenoso quando era ela quem o preparava. Qual o segredo para tratar o baiacu?
Ah! Não sei – disse ela. – Eu mesma não como.
RIBEIRO, João Ubaldo. Os Comedores de baiacu.
In: Arte de roubar galinha: crônicas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p.45 -9.